O Serra é um bom cão de família?
É potencialmente um excelente cão de família, muito paciente com crianças, devido à sua grande docilidade e dedicação aos donos, mas precisa de ser ensinado a respeitá-los, desde o primeiro dia com eles, para evitar que uma eventual tendência para ser dominante se torne difícil de controlar e o instinto protector o leve a tentar morder quem não conhece. Pessoas demasiado permissivas, que não consigam impor-se, não deverão ter um Serra.
Ele é bom com crianças?
Sim. Sente uma atracção compulsiva por elas e deixa-as fazer coisas que provavelmente não toleraria a um adulto. É muito paciente com elas, meigo, brincalhão e muito protector. Se crescer com uma criança, ser-lhe-á totalmente dedicado.
É agressivo?
Embora o carácter seja parcialmente determinado pela genética e possam existir algumas linhagens em que tenda a haver cães de temperamento mais forte e dominante, potencialmente com alguma agressividade, por norma o Serra da Estrela não é um cão agressivo, a menos que cresça sem educação, sem limites, o que poderá levá-lo a morder se for confrontado. Ele é, na essência, e se educado com bom-senso e algumas regras básicas, defensivo e dissuasor e só morderá em última instância, para se proteger e à sua família humana ou os animais à sua guarda, bem como à propriedade que lhe for dada a guardar.
Precisa de ser ensinado a guardar?
Não, o seu instinto de guarda e protecção é inato, mas é muito importante que seja socializado, para não se tornar agressivo e para aprender a direcionar esse instinto, aceitando pacificamente as visitas que os donos receberem.
É recomendável levá-lo a aulas de obediência?
Sem dúvida, desde que administradas por um treinador ético e qualificado e preferencialmente quando ainda for cachorro. Essas aulas, nas quais os donos deverão participar, ajudá-los-ão a conseguir controlá-lo melhor, a evitar que se torne excessivamente dominante ou a superar uma eventual insegurança, a torná-lo um animal mais feliz, mas também, por exemplo, a ensiná-lo-ão a recusar alimentos que não sejam dados pelas pessoas da casa, por forma a evitar um eventual envenenamento.
É difícil passear um Serra da Estrela à trela?
Desde que esteja habituado ao uso da trela, não deverá haver qualquer dificuldade, porque, regra geral, não tende a puxar, andando tranquilamente ao lado do dono. Todavia, é conveniente manter-se alerta, porque, caso se cruze com um gato ou especialmente com outro cão, grande, agitado ou dominante, o Serra tenderá a reagir e dar um puxão suficientemente forte para fazer o dono cair.
O Serra aprende depressa e com facilidade?
Sim, sendo muito inteligente e observador, aprende facilmente, por vezes até a fazer o que não deve (abrir torneiras e portas, incluindo a do frigorífico, retirar cabos e fichas de tomadas de electricidade, etc.). Devido à sua teimosia, raramente obedece à primeira, sendo necessária persistência para o educar.
Gostaria de ensinar o meu Serra a fazer "agility". É possível?
Sim, embora dependa muito da constituição física dele. Serras mais corpulentos e pesados terão mais dificuldade em praticar a modalidade, mas muitos exemplares são muito ágeis e atléticos, tendo assim condições corporais adequadas. Por outro lado, o carácter individual de cada um determinará o grau de dificuldade ou facilidade da aprendizagem desta prática: embora na sua maioria os Serras sejam teimosos, há também outros que são obedientes e fáceis de treinar.
Perguntas frequentes
Vivo num apartamento com um terraço grande. Será que posso ter um Serra?
Não é aconselhável. Apesar de gostar de passar tempo dentro de casa, com os seus humanos, o Serra é um animal talhado para os grandes espaços e a vida em liberdade, pelo que a clausura num apartamento ou num terraço ou pequeno pátio tenderão a torná-lo apático e deprimido ou a assumir comportamentos destrutivos, raspando portas e roendo a mobília, especialmente se não lhe for diariamente possibilitado um longo passeio e a possibilidade de correr.
Com que idade se deve introduzir um Serra num rebanho para que facilmente se adapte a ele?
O mais cedo possível, de preferência logo após o desmame. Muitos pastores fazem as suas cadelas parir junto do gado, para que precocemente os cachorros se habituem a ele. No entanto, cachorros até aos 4 meses não deverão ter dificuldades em adaptar-se e há casos de sucesso de alguns colocados mais tarde.
É preciso ensiná-lo a guardar o gado?
Não, porque o instinto protector do Serra da Estrela é direcionado para os seres aos quais o unem laços afectivos. Todavia, num cachorro em crescimento, a atitude protectora poderá demorar alguns meses a manifestar-se, além de que ele aprenderá mais depressa o seu trabalho se for acompanhado por um cão mais velho que cumpra essa função.
O meu cachorro Serra quer mordiscar as orelhas dos borregos. Como posso corrigi-lo?
Esse comportamento é próprio dos cachorros, especialmente na fase da mudança de dentição, em que sentem necessidade de mordiscar tudo o que apanharem a jeito, mas por outro lado por ser também uma forma de brincar. Deve ser impedido de fazê-lo, com uma repreensão ou eventualmente uma leve palmada. Se insistir nesse comportamento, deverá ser separado dos borregos ou cabritos por uma cerca, mas permanecendo perto deles. Com o tempo aprenderá a respeitá-los.
O meu cachorro Serra tenta sempre mordiscar as minhas mãos. Isso é normal ou será que ele irá tornar-se um adulto agressivo?
É normal mas tem de ser ensinado que esse comportamento não é aceitável. Um “não” firme proferido sempre que isso aconteça pode ser suficiente para o dissuadir, embora frequentemente seja necessária uma pequena palmada. Uma alternativa que costuma resultar será abrir-lhe a boca e pressionar um dedo sobre o fundo da língua.
Os Serras não fazem mal a aves de capoeira ou a outros animais domésticos mais pequenos que ele?
O típico Cão da Serra da Estrela tem um baixo instinto de presa, o que significa que não tem tendência predatória. Por isso, se desde cedo for habituado a outros animais, como gatos, aves, roedores, por exemplo, tenderá a afeiçoar-se e a protegê-los.
O Serra dá-se bem com outros cães?
Tende a dar-se bem com outros cães desde que não sejam dominantes ou hiperactivos. Costuma ser paciente e tolerante com cães pequenos. Todavia, é necessária cautela quando interage com cães grandes, especialmente se forem enérgicos, dominantes e do mesmo género. Por esse motivo, aconselha-se a que, se já tiver um Serra da Estrela e pretender adquirir outro, opte por um do sexo oposto. No entanto, muitas pessoas possuem mais do que um Serra do mesmo género, sem que haja qualquer conflito; normalmente nesses casos, são irmãos ou cresceram juntos, ou a sua relação é amistosa simplesmente porque não vivem com nenhuma cadela não esterilizada (no caso de machos), ou porque pelo menos um deles foi castrados.
É verdade que há Serras a desempenhar a função de cão terapia assistida?
Sim, pelo menos em Portugal e nos Estados Unidos, país no qual os cães têm de ser oficialmente certificados num programa do American Kennel Club (Canine Good Citizen) para poderem ter essa actividade.
O Serra é cão de um só dono?
Não necessariamente. Dentro da família, ele poderá escolher uma pessoa a quem se dedicará e obedecerá mais, embora, se for bem educado, respeite e ame toda a família. Em circunstâncias em que têm de mudar de dono, muitos Serras adaptam-se facilmente, sobretudo se forem acarinhados e respeitados na sua nova vida.
Qual a longevidade dum Serra da Estrela?
A norma é entre 12 e 14 anos, embora alguns vivam mais tempo (16 ou mais anos)
Tende a sofrer de alguma doença?
Tal como na generalidade das raças grandes ou gigantes, existe alguma tendência no Serra da Estrela para problemas como as displasias da anca e do cotovelo, a cardiomiopatia dilatada e o hipotiroidismo, pelo que é desaconselhável que adquira um cachorro cujos progenitores não tenham realizado despiste de pelo menos algumas dessas doenças. Esse cuidado não é por si só garante de saúde do cachorro mas indica uma atitude ética de quem o criou e uma maior probabilidade daquele não vir a sofrer de um desses problemas.
Os pais do meu Serra não têm displasia da anca mas ele tem e é grave. Porque é que isso aconteceu?
Porque, apesar de terem ancas normais, os progenitores dele são ambos, muito provavelmente, portadores de muitos genes responsáveis por causar displasia da anca e o seu cão herdou-os dos dois. Se os tivesse herdado de apenas um deles, ele não teria displasia, mas tendo recebido em duplicado esses genes (ou melhor, cópias de genes) recessivos, ele seria necessariamente afectado. Pode eventualmente haver outra causa, ambiental, para a displasia do seu cão, se ele sofreu um acidente grave, por exemplo, no caso de atropelamento ou de uma grave pancada, embora normalmente um veterinário ortopedista experiente consiga detectar radiograficamente se uma lesão foi originada por um acidente.
Ouvi dizer que os Serras devem ter as orelhas repuxadas para trás e um gancho na extremidade da cauda. Porquê?
Porque são duas características típicas da raça, que ajudam a distingui-la de outras, como o Rafeiro do Alentejo ou o Cão de Castro Laboreiro. Há duas razões funcionais para as orelhas deverem ser repuxadas: ficam menos expostas à mordida do seu inimigo ancestral, o Lobo, e tendem menos a ser afectadas por otites. Quanto ao gancho, não há nenhuma razão prática para a sua existência. Na verdade, certos tipos de gancho, formados por uma degeneração óssea, são disfuncionais, porque tendem a prender-se, por exemplo, em vegetação mais ou menos densa.
Um Serra é puro se tiver presunhos e o céu-da-boca preto?
Não necessariamente. Muitos cães, de outras raças ou sem raça definida, têm ambas as características.
Os presunhos têm utilidade?
Muitas pessoas, sobretudo pastores, acreditam que sim, que os presunhos ou esporões (a quinta unha nos posteriores) ajudam o cão a estabilizar os andamentos sobre a neve ou em declives. No entanto, isso dependerá do tipo, da configuração e do posicionamento dos presunhos: se forem formados unicamente por pele, em vez de por um tendão ou por osso, são inúteis e poderão até ser disfuncionais, sobretudo se duplos e os segundos presunhos virados um para o outro, porque poderão tender a enganchar-se mutuamente e rasgar-se, e o cão adoptar uma postura defensiva, rodando os posteriores por forma a que os esporões não se toquem e desenvolvendo uma deformação chamada rotação do metatarso, a qual poderá causar displasia da anca e, se grave, requerer cirurgia. Por outro lado, o cão é o único canídeo esporado: nenhum outro, em estado selvagem, possui essa característica (os únicos lobos com presunhos são híbridos, fruto de acasalamentos com cães) - o que contradiz a teoria de que os esporões são necessários para o cão de trabalho. Alguns criadores cortam os presunhos aos cachorros recém-nascidos. Um cão adulto poderá ter os seus presunhos removidos por um veterinário, desde que não sejam constituídos por um osso ou um tendão.
O Serra da Estrela pode ser de cor preta ou branca?
Não. Há serras raiados cujas raias são muito largas e apostas sobre uma pelagem com muito pigmento preto (fulvo escuro ou lobeiro), que por esse motivo aparentam ser pretos. E há os muitos claros, de aparência branco-sujo ou acinzentado, tonalidades que resultam de um gene que dilui a cor fulva. Ocasionalmente, vê-se alguns Serras que são, de facto, pretos mas essa cor não é admitida no estalão da raça.
Existe alguma diferença entre o Serra de pêlo comprido e o de pêlo curto, além do comprimento do pêlo?
Não. As únicas diferenças que existem não estão relacionadas com a variedade mas sim com as linhagens (para além das diferenças individuais de carácter de cada cão, evidentemente).
Diz-se que não se deve acasalar as duas variedades porque nascem cães de meio-pêlo. É verdade?
O chamado “meio-pêlo” pode surgir tanto em acasalamentos inter-variedades como nos de apenas uma delas. Ele é o resultado da acção de genes chamados “modificadores”, que podem alterar o comprimento do pêlo. É devido à acção desses genes que existem, dentro de ambas as variedades, variantes no comprimento da pelagem. Por exemplo, cães da variedade de pêlo comprido que tenham uma pelagem mais curta podem, especialmente no Verão, após a queda do subpêlo de Inverno, aparentar ser de pêlo curto.
É na Serra da Estrela que se pode encontrar os melhores Serras?
Não. Lá, como em qualquer outro lugar, existem cães e cadelas típicos e atípicos. A maneira mais segura de obter um cão típico é adquiri-lo a um criador que dê garantias (cães registados com pedigree, controlo de doenças hereditárias como a displasia da anca, assistência pós-venda). Não é aconselhável comprar um cachorro à beira da estrada, na Serra da Estrela, porque: 1º poderá não ter raça definida; 2º não foi vacinado e há alta probabilidade de ter contraído parvovirose ou esgana, além de que deverá estar infestado de parasitas internos e externos, tais como lombrigas, pulgas, carraças, etc
Com que regularidade se deve escovar um Serra?
No caso dos exemplares de pêlo comprido, pelo menos quinzenalmente, de preferência uma ou duas vezes por semana, embora na altura da muda do subpêlo seja aconselhável pentear todos os dias. Dependerá muito do estado da pelagem. Os Serras de pêlo curto não necessitam de escovagens tão frequentes, normalmente apenas nas épocas da muda. De qualquer forma, uma escovagem regular, seja qual for a variedade, é aconselhável para verificar o estado da pele e a eventual presença de perigosas espigas (praganas) capazes de perfurá-la, ou de parasitas como pulgas ou carraças.
O meu Serra jovem está a perder muito pêlo. Isso é normal?
Os Serras costumam perder e renovar o subpêlo duas vezes por ano, na Primavera e no Outono, para se prepararem para a estação seguinte, e muitos deles têm mudas radicais, que alteram muito o seu aspecto. Na maioria dos casos, a explicação é essa, embora possa suceder que uma queda de pêlo seja motivada por problemas como sarna ou outros.
O pêlo do Serra da Estrela deve ser tosquiado no Verão?
Salvo alguma razão excepcional (de saúde), não, já que o pêlo protege do calor mas também dos raios ulta-violeta. Na Primavera, eles perdem o subpêlo de Inverno, adquirindo outro, menos denso, mais adequado à época do calor. Nalguns exemplares de pêlo comprido, o subpêlo de Verão é tão ralo que fá-los parecerem de pelo curto. Noutros, geralmente com uma pelagem muito densa, longa e profusa, pelo contrário, pouco se nota a época da muda. Regra geral, escovagens frequentes ao longo desse período (cerca de um mês) são suficientes para manter a pelagem cuidada e mais ajustada para suportar o calor – mas nalguns casos, em especial de Serras que foram castrados e cuja pelagem se tornou mais comprida e profusa, eventualmente crescendo continuamente, poderá ser aconselhável fazer uma ligeira tosquia.
Devem tomar banho regularmente?
A periodicidade dos banhos para cães desta raça (ou até mesmo a eventual necessidade deles) depende do tipo de vida que tenham. Para Serras que vivam no campo, no exterior, que se deitem sobre a terra ou a palha, os banhos serão inúteis, excepto se eles se sujarem muito ou deles necessitarem por razões de saúde. Uma boa escovagem regular libertará o pêlo e a pele do pó e de vegetação seca, sendo geralmente suficiente para os manter em boas condições. Por outro lado, banhos frequentes retiram uma camada de gordura necessária não apenas à pele, sem a qual esta tenderá a secar e eventualmente a descamar, mas também à pelagem, já que essa gordura reveste o pêlo, formando uma espécie de camada impermeabilizante, que o protege da humidade, da chuva e da neve.
É verdade que odeiam nadar e até mesmo molhar-se?
Se desde cedo forem habituados ao contacto com a água, em lagos, piscinas ou até no mar, poderão gostar de nadar. Caso contrário, por norma, evitarão a água.
Eles conseguem suportar temperaturas muito baixas? E as altas?
Sim. O Serra da Estrela, seja qual for a variedade, adapta-se a climas diferentes, desenvolvendo um pêlo e um subpêlo mais densos e profusos quando vive em climas frios, que lhe permite manter-se quente, e adquirindo uma pelagem mais ligeira e rala como forma de adaptação a temperaturas médias elevadas.
Porque é que os Serra da Estrela têm tendência para fugir?
O Serra, apesar de dedicado ao dono, conserva uma natureza independente, além da curiosidade inerente ao seu instinto de protecção, a qual o leva a querer inspeccionar as imediações para verificar se tudo está bem. Ao desempenhar a sua função original, se em matilha, um deles tende a patrulhar a área, enquanto os outros se mantêm junto ao gado. Por isso, é muito importante certificar-se de que a sua propriedade está convenientemente vedada por um muro ou vedação, sólidos e altos (no mínimo, 180 cm) e inexpugnáveis, para evitar que ele consiga escapar. Caso contrário, ele poderá ser atropelado ou envenenado, causar um acidente, etc..
É verdade que ladram muito?
Sim, sobretudo quando jovens. É a sua forma de dissuadir intrusos e potenciais ameaças. Quando adultos, tendem a acalmar e a ser menos barulhentos.
Porque é que uns Serras têm a cabeça toda preta e outros só o focinho? Qual é mais correcto?
A chamada “máscara”, negra ou apenas escura, é uma das características típicas do Cão do Serra da Estrela. Na sua origem está um gene, que pode exprimir-se na sua extensão mínima, somente à volta do nariz, ou na máxima, em toda a cabeça, pescoço e no peito. Crê-se que a máscara que se prolonga para o crânio, actualmente tão popular, não existiria antigamente, atendendo às fotos de Serras da primeira metade do século XX, todos eles com a máscara ocupando somente o chanfro (focinho) e eventualmente uma pequena área sobre os olhos ou contornando-os.
Ouvi dizer que não é boa ideia adquirir dois cachorros da mesma ninhada. Porquê?
A adaptação de dois cachorros que cresceram juntos a uma nova vida, numa nova casa, com novos donos e novos hábitos, pode ser um pouco mais difícil ou demorada, porque tenderão a procurar mais a companhia um do outro do que a dos seus novos humanos. No entanto, não é forçoso que tal aconteça, dependerá muito do carácter de cada um e principalmente da atitude dos donos e do tempo que estes lhes dedicarem. A menos que tenham temperamento medroso ou sofrido algum trauma, eles não irão resistir às brincadeiras e aos afagos dos seus humanos.
Não sei se hei-de optar por adquirir um cachorro macho ou uma fêmea. Qual é o melhor?
Em muitos casos, mais importante do que o género do cachorro é escolher o seu temperamento individual. Há cachorros Serra mais tranquilos e outros mais enérgicos, muitas vezes irmãos de ninhada. É importante avaliar o carácter dos pais e pedir ajuda ao criador para selecionar o cachorro que parecer mais adequado para si. Muitas pessoas preferem fêmeas devido à ideia generalizada de que são mais submissas e tendem menos a fugir, embora essa ideia nem sempre corresponda à realidade. Outros escolhem machos por não quererem lidar com os constrangimentos dos cios, embora a tendência que eles têm para marcar o território possa ser um facto dissuasor, especialmente para quem quiser ter o cão dentro de casa.
Porque hei-de pagar um valor elevado por um cachorro Serra de um criador se posso comprar um por um preço baixo na Serra da Estrela, à beira da estrada?
Embora alguns comerciantes vendem os chamados cachorros “beira da estrada” com uma vacina, nem todos os fazem, existindo o risco do animal poder contrair ou ter já incubada uma doença infecto-contagiosa potencialmente letal, como a esgana ou a parvovirose. Além disso, não costumam estar desparasitados nem tratados contra pulgas e carraças, não é raro terem sarna e são frequentemente desmamados precocemente, com os possíveis problemas comportamentais que daí poderão advir. Por outro lado, você não saberá se são puros nem fará ideia de como é o carácter dos pais. E se estes forem agressivos e o cachorro herdar esse temperamento? Se, pelo contrário, escolher adquirir a um criador sério, irá conhecer pelo menos a mãe, eventualmente também o pai do cachorro cachorro (muitos criadores frequentemente acasalam as suas cadelas com machos de outros proprietários); ele estará vacinado, desparasitado interna e externamente, terá sido criado em boas condições de higiene, tendo muito menor risco de vir a contrair uma doença infeciosa. Além disso, os progenitores deverão ter realizado rastreios de doenças genéticas, como as displasias da anca e cotovelo e a cardiomiopatia dilatada, para tentar reduzir as probabilidades do cachorro vir a sofrer esses problemas. Por outro lado, alguns desses criadores dão garantias de saúde, que não podem garantir totalmente que o cachorro não irá ter uma doença hereditária mas que, caso isso aconteça, oferecerão alguma forma de compensação.
A minha cadela Serra faz uma falsa gestação em cada cio. O meu veterinário diz que se ela tiver uma ninhada, essa tendência desaparecerá. Será boa ideia?
Alguns veterinários aconselham os donos de cadelas a fazê-las ter pelo menos uma ninhada, como forma de prevenir o surgimento de tumores nos órgãos reprodutivos e de ajudar a manter o seu equilíbrio psicológico. No entanto, se isso acontecesse, faria aumentar ainda mais a já excessiva população canina mundial. Embora muitas pessoas desejem que a sua querida cadela tenha uma ninhada para poderem ficar com um filho dela, deveriam ponderar bem essa decisão: por um lado, os cachorros têm grande probabilidade de não serem parecidos com a mãe; por outro, eles tirariam a possibilidade de adopção a outros cachorros, abandonados, carentes, eventualmente em perigo de vida (e há tantos!). Há ainda outra questão importante: as únicas duas razões para se criar uma ninhada deverão ser contribuir para melhorar uma raça ou, no caso do cães sem raça definida, gerar cachorros equilibrados, com aptidões de trabalho excepcionais. Ao ponderar acasalar a sua cadela, deverá primeiro levá-la a ser avaliada numa exposição canina ou num exame de confirmação de raça, para determinar se tem a qualidade desejável para reproduzir, e submetê-la a rastreios das doenças hereditárias mais comuns na raça (displasias da anca e do cotovelo, cardiomiopatia dilatada); ter os mesmos cuidados na escolha do macho com o qual ela irá acasalar (deverá ter a noção de que, ao criar uma ninhada de má qualidade, estar-se-á a prestar um mau serviço à raça, contribuindo para a sua degeneração). Ainda assim, esses procedimentos não são garante absoluto de que os cachorros não irão desenvolver doenças hereditárias, as quais causarão sofrimento aos animais e aos seus donos. Deverá também ter em conta que: 1º, por falta de experiência como criador, se algo correr mal os cachorros poderão morrer, assim como a cadela, ou poderá ser necessário realizar uma cesariana; 2º, o mercado está saturado, com muito mais oferta do que procura; poderá ser difícil vender ou até dar os cachorros e, se não se conseguir fazê-lo, as despesas da alimentação, vacinação, desparasitação até os cachorros finalmente partirem serão enormes.
Será má ideia deixar o meu Serra da Estrela acasalar com a mãe ou com uma filha ou irmã?
Regra geral, sim. A prática da consanguinidade, que muitos criadores utilizam para obter bons resultados mais rapidamente, deve apenas ser realizada parcimoniosa e ocasionalmente, por criadores que conhecem bem e desde há várias gerações as linhagens com que trabalham e que as testaram relativamente a doenças hereditárias, com bons resultados. Ela pode ser muito útil para, por exemplo, preservar e fixar características importantes numa raça. No entanto, existe sempre algum risco, tanto maior quanto mais apertada a consanguinidade e principalmente em linhagens não testadas, das quais pouco ou nada se sabe. A razão é que todo o animal é portador de mutações genéticas recessivas – e a probabilidade de dois cães aparentados serem portadores da mesma mutação, que poderá originar problemas de saúde ou temperamento, e de ambos a passarem à sua prole (que será por ela afectada) é elevada.
Posso dar leite ao meu cachorro Serra?
O leite de vaca contém elevado teor de lactose, prejudicial para a flora intestinal dos cães. Se um cão gostar de leite ou um cachorro tiver de ser desmamado cedo, poderá ser-lhes dado leite de cabra ou de ovelha ou uma mistura de leite de vaca magro com gema de ovo e um pouco de azeite. Como alternativa, poderá optar por leite comercial para cachorros.
Os Serra da Estrela comem muito?
Normalmente, não. Dependendo do seu tamanho e peso, bem como da qualidade da ração, um exemplar adulto come, em média, entre 400 e 900 gramas.
Podem comer ossos?
Os ossos, um óptimo alimento rico em cálcio, deverão ser parte importante da dieta dum cão. Na sua condição original, na natureza, os cães, como a generalidade dos outros canídeos, têm de caçar e alimentam-se não só da carne mas também das vísceras, órgãos e ossos. Como qualquer cão, o Serra pode e deve roer ossos de vaca ou vitela, que não se lasquem – os quais deverão ser cozidos, ou comidos crus após congelação durante três dias, por forma a eliminar bactérias. Eles ajudam a manter limpos os dentes do cão, mas não deverão ser dados a cachorros devido ao risco de partir ou desalinhar os dentes. Os Serras podem também comer ossos de carcaça de frango, mas evite ossos de peru, pato ou coelho, os quais poderão perfurar o seu estômago, levando-o à morte.
O que é melhor, ração ou uma alimentação natural?
Uma dieta natural que contenha carne, ossos, tripas e órgãos (preferencialmente crus, embora tenham de ser previamente congelados durante três dias, para eliminar batérias) mas também legumes cozidos (ou crus mas reduzidos a puré) e leguminosas é saudável, no entanto a sua preparação requer algum tempo, além de cuidados para que seja equilibrada. Não sendo possível, uma ração de boa qualidade é uma alternativa prática.